terça-feira, 27 de abril de 2010

ABALOS SÍSMICOS E VULCÕES



ABALOS SÍSMICOS E VULCÕES

UMA VIAGEM AO INTERIOR DA TERRA
Por Maria Inês Zanchetta



Há mais de um século, o francês Júlio Verne escreveu sua fantástica Viagem ao centro da Terra. Nela, o professor Otto Lindenbrok, mineralogista alemão, e seu sobrinho Axel desceram às profundezas do planeta perdendo-se em uma interminável cadeia de labirintos e galerias, onde correm rios de forte correnteza e mares subterrâneos. Na verdade, esse cenário não tem nada a ver com o que acontece no interior da Terra. Em 1864, quando Verne escreveu sua história, não se tinha ultrapassado sequer mil metros em direção ao fundo do coração do planeta, a 6 370 quilômetros da superfície.


Ali, a temperatura chega aos 4 mil graus e a pressão ultrapassa 3 milhões de atmosferas — uma atmosfera equivale à pressão exercida por 1 quilo sobre 1 centímetro quadrado. É um mundo infernal, de acesso quase impossível, digno da imaginação de um escritor de ficção científica: a profundidades maiores que algumas poucas dezenas de quilômetros, as altíssimas pressões e temperaturas pulverizariam qualquer sonda por mais resistente que fosse. Mas, afinal, o que existe mesmo lá embaixo? Como é mais fácil subir ao espaço do que descer aos porões do planeta, a ciência tem acumulado uma massa de conhecimentos sobre o sistema solar talvez até maior do que sobre suas camadas mais fundas.


Esse é o desafio para os cientistas que têm os olhos voltados não para o céu, mas para o chão — ou melhor, para o que existe abaixo dele. Embora compacta, a Terra não é um bloco homogêneo; é possível compará-la a uma imensa cebola, onde diversas camadas se sobrepõem. A pele que a recobre a crosta terrestre, cuja profundidade varia de cerca de 10 quilômetros nas áreas oceânicas até 70 quilômetros nos continentes. Por ser a camada mais superficial, a crosta naturalmente é a mais simples de ser estudada.


Os fragmentos de rochas recolhidos durante as perfurações são uma preciosa fonte de estudo. Depois da crosta vem a zona de transição para a camada seguinte, o manto, que alcança até 2 900 quilômetros de profundidade. Abaixo do manto está o núcleo, a uma profundidade de 5100 quilômetros. Para perfurar os cinco primeiros quilômetros em direção ao interior da Terra existem equipamentos apropriados. Daí em diante as coisas se complicam. "É difícil manter a sonda na direção correta, as brocas quebram e qualquer operação para recuperar o material leva muito tempo", explica o professor Igor Pacca, do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo.


Nesse tipo de exploração, o recorde pertence aos soviéticos. Desde 1970, eles vêm fazendo perfurações na península de Kola, no extremo norte da URSS. Só recentemente chegaram à marca dos 13 quilômetros de profundidade — um simples arranhão na casca do planeta. Segundo o geofísico Pacca, o feito mais importante dos soviéticos até aqui foi não encontrar na parte inferior da crosta uma zona de transição de rochas de granito para rochas de basalto. Até então, os geofísicos acreditavam que essa área existia, tanto que tinham até um nome para ela: descontinuidade de Conrad. "Atingida a profundidade que corresponderia a essa descontinuidade, não se achou basalto", relata o professor Pacca.



Da mesma forma como os astrônomos astrofísicos querem conhecer melhor o que existe, por exemplo, em Marte, o mais ambicioso objetivo dos geofísicos de todo o mundo é conhecer a intimidade do interior da Terra. Por isso, em setembro do ano passado, uma equipe de cientistas iniciou uma perfuração na cidadezinha de Windischeschenbach, no norte da Alemanha Ocidental, que não vai terminar antes do ano 2000. Então, os pesquisadores esperam chegar à meta estabelecida: 14 quilômetros abaixo da superfície. No começo da viagem, vão utilizar os mesmos equipamentos usados em perfurações petrolíferas.


A partir do sexto quilômetro, no entanto, pretendem estrear um motor desenhado especialmente para essa tarefa, cuja novidade é um dispositivo especial que corrigirá automaticamente a direção da sonda ao menor desvio do eixo de perfuração. Se tudo funcionar, os alemães poderão economizar tempo. Além de muito preciso, esse instrumental é basicamente capaz de suportar altíssimas pressões e temperaturas. Quando a broca chegar ao décimo quarto quilômetro, estará submetida à temperatura de 300 graus. Não tendo acesso direto ao interior do planeta. os cientistas sempre precisaram valer-se de informações indiretas. Uma das formas de saber o que há nas camadas internas dessa grande cebola é analisar os fenômenos que nelas ocorrem.



Os terremotos, por exemplo, emitem ondas sísmicas, cuja trajetória e velocidade são minuciosamente estudadas ao se propagarem por toda a Terra. Combinadas com outras informações, essas análises trouxeram importantes descobertas. Assim. o geólogo iugoslavo Andrija Mohorovicic descobriu já em 1909 que entre a crosta e o manto havia uma descontinuidade. Em homenagem ao descobridor. ela foi batizada com o nome de Mohorovicic. Até 1936, supunha-se que o núcleo era fluido Naquele ano porém, a sismóloga dinamarquesa Inge Lehman, hoje com 99 anos, revelou após estudos de ondas sísmicas que o núcleo tinha também uma parte interna sólida.


Para descobrir de que é feito e o que acontece no miolo da grande cebola — o interior do núcleo —, os cientistas levaram em conta o efeito de um fenômeno natural muito estudado desde o século XVI: o campo magnético terrestre. Atualmente, os geofísicos estão convencidos de que ele é gerado no núcleo externo, mediante um processo semelhante ao de um dínamo só que contínua — os dínamos que se conhecem são descontínuos —, onde a energia mecânica se transforma em energia eletromagnética. Essa é uma das razões pelas quais os cientistas supõem que o material do núcleo interno deva ser metálico, pois precisa conduzir eletricidade para fazer funcionar o dínamo.


Tal teoria se encaixa na análise sismológica: a velocidade das ondas de choque que os terremotos produzem ao atravessar o núcleo revela uma densidade que corresponde à do ferro submetido a pressões como as que existem nas regiões centrais do planeta. A esta evidência junta-se o fato de


que no Universo conhecido não existe outro material com tais características em quantidade suficiente para constituir uma alternativa. Daí se consolidou a idéia de que o núcleo é feito essencialmente de ferro, embora também existam nele elementos mais leves, como silício, enxofre, oxigênio, potássio, entre outros. Sabe-se com certeza que a pressão do material do núcleo aumenta de acordo com a profundidade.


Essa pode ser uma das razões que explicam por que o núcleo externo é líquido enquanto o interno é sólido — a elevadíssima pressão impediria que ele se fundisse. A questão da pressão e da temperatura sempre foi muito discutida, e a cada dia que passa os cientistas conseguem vencer barreiras nas suas experiências a esse respeito. No início de 1987, por exemplo, os pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia conseguiram determinar a temperatura do interior da Terra fazendo a seguinte experiência: primeiro, comprimiram uma amostra de ferro entre dois pequenos cones de diamantes, acionados por uma enorme prensa, até alcançar 1,4 milhão de atmosferas — de acordo com os cientistas, essa seria a pressão na fronteira entre o núcleo externo e o manto.

O segundo passo foi aplicar um raio laser na amostra para aquecer o ferro até o ponto de fusão. Verificou-se então que o metal fundia a 3 500 graus — enquanto sob a pressão atmosférica o ferro funde a 1500 graus. A etapa seguinte foi descobrir a temperatura no limite do núcleo sólido com o liquido, onde a pressão alcança 3,3 milhões de atmosferas — algo como a inimaginável pressão que 3 300 carros exerceriam sobre uma superfície do tamanho de uma unha. Para isso, os cientistas dispararam um projétil movido a hidrogênio contra a amostra, comprimindo-a e aquecendo-a até que atingisse seu ponto de fusão.


Não conseguiram chegar aos 3,3 milhões de atmosferas, mas deduziram que a temperatura, ali no limite entre o núcleo externo e o interno, estaria por volta de 6 300 graus, no âmago do núcleo, seria de 6 600 graus, mais até que na superfície radiante do Sol. Esses novos dados aumentaram em 2 mil graus as estimativas de temperatura que vigoravam até então. Entre os dados obtidas com essas experiências, um em especial se destaca: o possível aumento da influência do núcleo nos processos que ocorrem no manto, que abrange a região que vai da divisa do núcleo externo até a descontinuidade de Mohorovicic. O que os cientistas conhecem sobre o manto baseia-se no material que os vulcões expelem e nas cordilheiras vulcânicas do fundo oceânico, além do estudo de certos meteoritos.



Sabe-se que o manto é composto de silicatos, um material mais leve que a liga de ferro do núcleo e que não aparece de maneira uniforme, pois à medida que a profundidade aumenta o mesmo acontece com a temperatura e a pressão. Por isso, os cientistas dividiram o manto em dois níveis: o inferior e o superior, cada qual composto de minerais diferentes. "Uma camada notável do manto superior é a astenosfera", diz o professor Igor Pacca, "situada a 250 quilômetros de profundidade." Mesmo sólida, possui plasticidade suficiente para permitir o movimento de placas que estão acima dela.


Esse movimento é responsável pela deriva continental, que faz com que os oceanos cresçam e os continentes se afastem cada vez mais uns dos outros. De fato, sem o oceano a separá-las, as costas da África e da América do Sul se encaixariam perfeitamente, como num quebra-cabeça. A teoria da deriva dos continentes foi proposta em 1912 pelo meteorologista alemão Alfred Wegener, mas até os anos 50 ficou à espera de uma explicação. Afinal, qual seria o mecanismo que fazia massas de terra tão imensas se deslocarem? Experiências realizadas já então demonstraram que os sólidos cristalinos fluiam como líquidos quando se encontravam a temperaturas próximas do ponto de fusão.


Isso levou o geofísico holandês Felix Vening-Meinesz a elaborar a teoria de que na astenosfera ocorriam fortes correntes ativadas por diferenças de temperatura: os materiais quentes subiam e os frios desciam. A teoria do geofísico holandês foi reforçada nos anos 60, quando se descobriu que a crosta oceânica se renovava sem cessar com deslocamentos horizontais a partir das cordilheiras vulcânicas do Atlântico. Nesse movimento, elas liberam material quente do manto, e voltam a submergir. Isso ocorre, por exemplo, sob a cordilheira dos Andes. Mas foi só há poucos anos que se comprovou definitivamente a presença dessas correntes e sua influência na deriva dos oceanos.





A moral da história é que, mesmo não sendo possível o acesso direto ao interior da Terra, os avanços tecnológicos têm permitido aos cientistas ampliar os conhecimentos sobre sua estrutura, constituição e evolução — além de compreender melhor os fenômenos que ocorrem na superfície e afetam a vida em todas as suas formas.


By Paulo Ribeiro




Pelo que vimos até aqui os estudos sobre o que há no interior da crosta terrestre é parco em informações e, ainda muito incipiente. Mas até aqui podemos verificar que a física esta presente principalmente nos campos da óptica (LASER), pressões e temperaturas, fluidez dos materiais (Gráficos de Fases e Hidráulica) outro tópico importante é o uso das altas tecnologias de novos materiais (Ciência dos Materiais).


AS JANELAS DA TERRA



Os vulcões oferecem espetáculos ao mesmo tempo trágicos e deslumbrantes. Causam morte e devastação, mas tiveram papel fundamental na formação do planetas. Sem eles não haveria atmosfera.
*Por Maria Inês Zanchetta


No dia 27 de agosto de 1883, o navio Batavia Queens singrava tranqüilo o mar de Java, na Indonésia, Extremo Oriente, quando foi surpreendido por uma formidável explosão e acabou engolido pelo mar - em Hollywood. Pois o barco só existiu no filme Krakatoa, o inferno de Java, que 85 anos depois reconstituiu em cores, no melhor estilo do que na década de 70 seria chamado cinema-catástrofe, a pior erupção vulcânica de todos os tempos.


A ficção, no entanto, não deve ter ficado muito distante do que realmente aconteceu naquele dia de 1883. Relatos da época dão conta de que as explosões do Krakatoa repercutiram num raio de 5 mil quilômetros.


Ondas descomunais levantaram-se no mar e estenderam-se sobre as colinas das ilhas de Java e Sumatra, arrasando cerca de trezentas aldeias e vilas. Morreram 36 mil pessoas. Na derradeira explosão o Krakatoa afundou no mar fragorosamente. Calcula-se que o volume de matéria sólida regurgitado pelo vulcão, que subiu a 50 quilômetros de altura, foi da ordem de 18 mil quilômetros cúbicos, o equivalente, por exemplo, a 113 mil barris de petróleo ou um quinto da produção diária brasileira no ano passado. Dois terços daquele material caíram num raio de 30 quilômetros, formando um banco de pedras-pomes que, durante bom tempo, impediu a navegação na área; o terço restante permaneceu, suspenso na atmosfera em forma de poeira e se espalhou pelo planeta inteiro. Foi por isso que em toda parte, nos dois anos seguintes, o pôr-do-sol ficou mais avermelhado.


Para os nativos de Java e arredores, esse apocalipse provocado pelo vulcão só podia ser um castigo dos céus. Não se tratava propriamente de uma crendice nova: muito tempo antes, nos séculos VIII e IX, os antepassados dos javaneses achavam que as turbulências vulcânicas que assolavam aquelas paragens eram a manifestação do poder de Siva - o terrível deus hindu da fertilidade. Longe dali, também os antigos gregos e romanos provavelmente associavam tais erupções aos deuses. Tanto que a própria palavra vulcão vem do latim Vulcanus, deus romano do fogo (Hefestos para os gregos), representado com uma forja na mão.
As erupções vulcânicas são geradas nas profundezas do planeta. Assim, da mesma forma que os terremotos, os vulcões constituem autênticas janelas por onde os cientistas observam o que ocorre no manto da Terra - a camada que fica logo abaixo da crosta. Mais que isso, o papel do vulcanismo na formação do planeta é fundamental. Sem as erupções, não haveria, por exemplo, cadeias de montanhas. E, sem os gases e vapores que os vulcões expelem, a atmosfera não existiria, impedindo portanto o surgimento da vida. Tanto as erupções quanto os terremotos se originam no movimento das placas tectônicas - gigantescos blocos de rocha rígida que se movimentam sobre a astenosfera, a camada não rígida do manto - responsável pela deriva continental, que faz os continentes se afastarem ou se aproximarem uns dos outros.


Nesse colossal balé, as placas podem colidir: quando isso acontece, uma delas mergulha sob a outra ou debaixo do continente. De acordo com os geólogos, há no mundo dez grandes placas e diversas outras menores, todas em constante movimento de alguns centímetros por ano. "As erupções ocorrem, de preferência, nas margens dessas placas", explica o geólogo Mário Figueiredo, da USP. Segundo ele, o vulcanismo não resulta apenas da colisão de placas, também do afastamento delas. O espaço que se abre então é preenchido pelo magma - rocha em estado liquido - que começa a subir em direção à superfície, irrompendo em forma de lava.


Dependendo do movimento das placas, convergente ou divergente, formam-se vulcões diferentes, tanto na forma (menos ou mais cônicos) quanto na maneira como irrompem (com rios de lava ou violentas explosões). É possível distinguir três tipos principais de vulcão na superfície terrestre. Um é o que ocorre nas cadeias mesoceânicas, localizadas na região central do oceano Atlântico (que inclui as ilhas de Tristão da Cunha, São Paulo, Açores e se estende até a Islândia, já no Atlântico Norte), do Pacífico e do Indico. Nessa vasta área, os vulcões são o resultado do movimento de placas divergentes. Sua forma não é tão cônica, suas crateras são mais largas e suas encostas mais espraiadas do que as dos vulcões do segundo tipo - os que se estendem pelo


chamado cinturão de fogo que contorna o oceano Pacífico desde a América do Sul, chegando ao Japão e à Nova Zelândia.


Estes são conseqüência da colisão de placas. Enquanto na América do Sul o choque faz com que uma das placas oceânicas mergulhe sob a placa continental, no Japão e na Nova Zelândia as erupções são causadas pelo mergulho de uma placa oceânica sob outra. Nesse caso formam-se o que os geólogos denominam arcos de ilhas. No cinturão de fogo, os vulcões são mais cônicos e muito explosivos. Embora as erupções ocorram predominantemente nas margens das placas, há também casos de vulcanismo no interior das placas, chamados intraplacas. É o terceiro tipo. Um bom exemplo são os vulcões do Havaí. Ali, há no manto uma área conhecida como ponto quente. Trata-se de um foco de calor intenso, fixo, que estimula a produção de magma enquanto a placa se movimenta.
O magma chega à superfície e vai formando novas ilhas, que, por sua vez, se alinham com as mais antigas. Por meio da observação das ilhas novas e antigas, os pesquisadores podem saber como se dá o movimento das placas nessa região. Os célebres vulcões Etna e Vesúvio, na Itália, não se enquadram nesses tipos de vulcanismo. Eles são considerados intermediários entre os de arcos de ilhas e os das margens convergentes. Nem por isso são menos explosivos. Já os vulcões do leste da África são resultado de um mecanismo que ocorre na placa continental - ela se afina, vai se rompendo e possibilita as erupções. Isso pode levar à abertura de uma nova bacia oceânica. As erupções são tanto mais violentas e perigosas quanto mais viscoso for o magma, cuja composição varia.


Ele é formado basicamente de oxigênio sob a forma de óxidos metálicos, principalmente de óxido de silício ou sílica. Também entram nessa composição alumínio, ferro, magnésio, sódio, potássio, cálcio, titânio e manganês, além de carbono, flúor e enxofre. Quando o teor de sílica é baixo, a viscosidade é pequena e as erupções liberam rios de lava sem grandes explosões. É o caso dos vulcões da Islândia e do Havaí. Mas, à medida que o teor de sílica aumenta, o magma torna-se mais viscoso e não flui. Por isso, em vez de correr num rio de lava, explode por força da pressão.


Foi assim durante a erupção do vulcão Santa Helena, no Estado de Washington, extremo noroeste dos Estados Unidos, em 1980, que vomitou pedras, gelo, nuvens de gases quentes e lava. A grande devastação ficou por contada torrente de lama que se formou com o derretimento da neve que encobria suas encostas e desceu pelos rios, inundando o vale ao redor. Como não havia povoados próximos, o número de vítimas foi comparativamente pequeno - 61 pessoas. A explosão durou nove horas e calcula-se que foi o equivalente a 27 mil bombas como a lançada sobre Hiroshima durante a II Guerra Mundial, sem os efeitos radioativos, naturalmente. Depois da erupção, o Santa Helena até diminuiu de tamanho, devido à quantidade de material que jogou na atmosfera.




Muito pior foi outra explosão recente - a do Nevado del Ruiz, que em 1985 destruiu a cidade colombiana de Armero e matou 23 mil pessoas. Como no caso do Santa Helena, a causa da tragédia foram as torrentes de lama. Rápidas e violentas, podem percorrer distâncias de até 180 quilômetros em apenas duas horas e meia, arrastando tudo por onde passam. Nessa categoria está o El Chichón, no México, cuja última erupção, em 1982, durou sete dias e lançou 500 milhões de toneladas de cinzas na atmosfera. O material cobriu um quarto da superfície terrestre e bloqueou pelo menos 10 por cento da radiação solar. Onze aldeias foram varridas do mapa; a tragédia só não foi maior porque a população foi retirada a tempo.


A fina camada de poeira que uma explosão como essa ocasiona permanece muito tempo na atmosfera e certamente influência o clima da Terra. Foi o que aconteceu em conseqüência da explosão do Tambora, na Indonésia, em 1815. Ela provocou tal onda de frio no hemisfério norte que não houve para americanos e canadenses o ano ficou conhecido como aquele que não "houve verão". As erupções do Vesúvio, que sepultaram Pompéia e Herculano em 79 da era cristã, e as do Etna, em 1669, são comparadas pelos cientistas às mais catastróficas quanto ao lançamento de pedras, gases, cinzas e lava. Juntos, o Vesúvio e o Etna mataram 40 mil pessoas. Nessas explosões violentas, os gases expelidos combinam-se entre si e com a água, formando ácidos que não apenas matam por asfixia mas também por queimaduras.


Ao contrário desses, o Mauna Loa - o maior vulcão do mundo em altura, com 10 mil metros acima do fundo do oceano e 4 mil acima do nível do mar - e o Kilauea, ambos no Havaí, cujas maiores erupções aconteceram em 1835 e em 1924, não causaram tanta destruição porque a boa viscosidade do magma permitiu que este fluísse em rios de lava. Existem muitos vulcões ativos - adormecidos ou não - em todo o planeta, mas não se sabe exatamente quantos. Os cientistas estimam que haja entre 500 e 700 na superfície. Muitos outros permanecem no fundo do mar, longe dos olhos humanos.


"A dificuldade em precisar o número está em que não há qualquer característica que indique se um vulcão está ou não extinto", atesta o geólogo Mário Figueiredo. Ele dá como exemplo: "Quando estive na Antártida, visitei a ilha Pingüim, cujo vulcão deve ter irrompido pela última vez há cerca de duzentos anos. É muito pouco tempo em termos geológicos para dizer que esteja extinto". No Brasil não há vulcões, mas já houve há uma eternidade. Entre 73 e 48 milhões de anos atrás, quando a América e a África já eram continentes separados, dois vulcões entraram em erupção onde hoje é o Rio de Janeiro: os cientistas chegaram ao requinte de descobrir que um deles ficava na serra do Mendanha, no atual bairro de Campo Grande, e outro na serra de Madureira, onde está a cidade de Nova Iguaçu. O Brasil não tem vulcões ativos há muito tempo porque está afastado das margens das placas tectônicas.


Da mesma forma não acontecem erupções na ilha de Fernando de Noronha há 1 milhão de anos, o que prova que se extinguiu o vulcão que ali existia. Entre os vulcões ativos alguns têm pequenas e constantes erupções, como o Stromboli, na ilha do mesmo nome, no mar Tirreno, na Itália. À noite, transforma-se em espetáculo para turistas que ali fotografam as erupções sem perigo algum. Se de um lado as manifestações vulcânicas não são passíveis de controle, de outro podem ser previstas a tempo de impedir grandes tragédias, com a retirada da população.


Preocupados em diminuir os efeitos catastróficos das erupções, os vulcanólogos vêm desenvolvendo experiências inéditas. Em 1983, por exemplo, geólogos italianos conseguiram por meio de explosões de dinamite bloquear os caminhos por onde corria a lava do Etna, desviando-a para um lado do vulcão onde não havia aldeias. No ano passado, pesquisadores franceses conseguiram projetar um simulador de vulcões. Trata-se de um aparelho de 50 quilos que possui um reservatório, onde ficaria o magma, e um conduto, que o levaria à superfície. No reservatório foram injetados líquidos viscosos de composição semelhante à do magma; à medida que a pressão e a temperatura aumentavam, os cientistas colhiam dados sobre as bolhas que a fusão do material produzia, os fluxos de gases e a viscosidade.


A observação era feita por duas câmeras de vídeo com as objetivas mergulhadas no líquido viscoso. Assim, os pesquisadores conseguiram um modelo quantitativo que reproduz os fenômenos que ocorrem no interior de um vulcão. Dessa forma, as possibilidades que se tem de prever erupções são cada vez maiores. E isso não deixa de ser auspicioso para os hóspedes que precisam defender-se das instabilidades de um planeta sempre em movimento.



Uma erupção de energia



"Os vulcões podem sepultar cidades, mas têm também suas aplicações práticas", sustenta a geofísica Marta Mantovani, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP. Ela se refere ao possível aproveitamento da energia que vem da terra, chamada geotérmica, para a produção de energia elétrica a baixo custo, e outras aplicações, como o aquecimento de habitações - o que a torna atraente fonte alternativa para países carentes tanto de recursos como de energia. Nas regiões vulcânicas, parte do calor contido no magma se dissipa nas erupções. Mas a porção maior permanece aquecendo as rochas e seus fluidos. Estes estão presentes nas áreas por onde o magma sobe em direção à superfície. Os fluidos aquecidos só conseguirão subir senão forem barrados por uma cobertura de rochas impermeáveis. Se isso acontece, apenas uma mínima parte daqueles fluidos rompe o obstáculo; o resto vai formar os campos geotérmicos, que uma vez perfurados fornecerão energia. Nesses campos, as temperaturas alcançam de 200 a 300 graus, mesmo a profundidades inferiores a mil metros. Quando a broca penetra na formação porosa onde estão os fluidos, eles alcançam a superfície rapidamente devido à
pressão. Canalizados, movimentam as turbinas de uma usina geradora de eletricidade. Os pioneiros na exploração dessa modalidade foram os italianos: desde o início do século uma central movida a energia geotérmica existe em Larderello, na Toscana. Sua capacidade instalada é da ordem de 400 Mw, ou dois terços da malfadada usina nuclear de Angra I, em Angra dos Reis. Uma central semelhante serve para aquecer as habitações da gélida Reykjavík, capital da Islândia. Outras usinas funcionam no México e em El Salvador, periodicamente assolados por desastres vulcânicos. Assim, as manifestações da natureza que castigam populações inteiras podem também beneficiá-las.


*By Paulo Ribeiro


Temos exemplos claros que para estudar os vulcões a física está presente em quase tudo. Fluidez; Fusões; Pressões; Diagramas de Fases unindo a P e a T; Viscosidade do material magmático que se estuda em Hidráulica; no aproveitamento energético do tectonismo, que deve ser devidamente quantizado pelas teorias vistas em Termodinâmica. Mas há, ainda largo espectro de estudo do tectonismo no que tange a química e biologia.


FONTE:

REVISTA SUPERINTERESSANTE
SUPERARQUIVO/1989
super.abril.com.br/superarquivo/1989/conteudo_111504.shtml - 46k